EDIFICADOS SOBRE O FUNDAMENTO DOS APÓSTOLOS



                Os primeiros cristãos baseavam sua fé na Ressurreição de Jesus Cristo “no sepulcro vazio” e no fato do Senhor ter aparecido a Simão. O dom da presença do ressuscitado foi concedido também a outras pessoas e grupos. São Paulo até se considerava o último daqueles que o tinham experimentado presente, chamando-se humildemente “abortivo”. Mas Simão, a quem Jesus chamou Pedro, de pedra, tornou-se a referência fundamental, chamado a confirmar os irmãos na fé. Quando derramou seu sangue por causa de Cristo, crucificado de cabeça para baixo, como reza a tradição, pois se julgava indigno de morrer como o seu Senhor, seu lugar não ficou vazio. O Cânon Romano traz a lista de alguns de seus primeiros sucessores: Lino, Cleto, Clemente, Sixto, Cornélio. Dali para frente, o Bispo de Roma, chamado Papa, é a referência de comunhão para a Igreja, constituído por graça a rocha sólida para que todos professem a fé.

                Um olhar crítico sobre a história da Igreja mostra que nem todos os Papas, ou todos os Bispos, Padres, assim como nem todos os homens e mulheres que professaram a fé cristã foram exemplares em seu comportamento. Nossa vocação é a santidade, porque Deus, que nos ama, é santo, mas existe o mistério da liberdade humana e do pecado. No entanto, com o mesmo olhar crítico e maduro, vale a pena fazer a lista dos Papas dos últimos tempos e constatar com alegria a estatura de santidade que os caracteriza.

Cito apenas os que correspondem ao meu período de conhecimento direto, a partir de Pio XII, cuja vida e pontificado foram objeto de excelente filme lançado há duas semanas na Itália. Vale a pena conhecer seus escritos e tomar conhecimento de suas magníficas mensagens radiofônicas, tecnicamente perfeitas, para os recursos da época, com as quais formava a população católica. Seu pontificado preparou a estrada para o Concílio Vaticano II. Basta lembrar a Encíclica “Mystici Corporis” ou a “Mediator Dei”.

O Bem-aventurado João XXIII, que muitos pensavam ser um Papa de transição, conquistou o mundo e abriu as portas da Igreja para o diálogo com todos e convocou o Concílio, presidido sua primeira Sessão. A partir de 1963, o Papa Bom foi sucedido por Paulo VI. Até hoje, o Instituto Paulo VI continua a estudar o precioso acervo de ensinamentos deixados por ele. E foi o Papa dos gestos generosos e significativos, como o ósculo da paz dado a Atenágoras, Patriarca de Constantinopla, abrindo um fecundo horizonte de diálogo com os Ortodoxos. Em quinze anos de pontificado, Paulo VI concluiu o Concílio e, à custa de tantos sofrimentos, encaminhou na Igreja sua concretização. Em seguida, um sorriso de Deus oferecido ao mundo nos trinta e três dias de pontificado de João Paulo I. Passado o tempo, sabemos como o mundo daquele tempo precisava nada menos do que isto. E como para Deus mil anos são como um dia e um dia como mil anos, foi um pontificado breve e intenso, do jeito que Deus queria, tanto que não progrediram as eventuais e maldosas interpretações sobre sua morte. Passou o barulho.

                Vinte e seis anos foram necessários para que o mundo olhasse por todos os ângulos possíveis para o gigante da santidade e do pastoreio chamado João Paulo II, Papa do nosso tempo, que comandou a barca de Pedro na difícil e maravilhosa quadra do final do século XX e da passagem a este novo milênio. Proximamente o veremos beatificado. Sinto que o mundo vai parar de novo, estupefato diante de seu perfil, seus ensinamentos, seus gestos, sua vida.

                Como Deus continua a guiar sabiamente a sua Igreja, Bento XVI, o sucessor de João Paulo II, uma das inteligências mais prodigiosas de nosso tempo, corajoso como poucos homens, maturidade exemplar, cuja voz e doutrina atraem a todos, especialmente os jovens, é o Papa de nosso tempo. Em Roma se diz que as pessoas acorrem à Praça de São Pedro para ouvir o Papa, sedentas da verdade. Seu lema – “Colaboradores da Verdade” – revela-se cada dia mais atual. Alguém já disse que o grande milagre da condução da Igreja é que Deus tem sempre o Papa preparado para cada época, e não haveria outro melhor! É assim em nossos dias.
               
                Ao encontrá-lo na semana passada, não falei de problemas, mas quis apenas dar-lhe de presente a Igreja de Belém, nosso amor, nosso respeito, nosso esforço para evangelizar. Entreguei-lhe duas das muitas realizações de nossa Arquidiocese: o Círio de Nazaré e a Fundação Nazaré de Comunicação. E sei tais presentes alegram profundamente o coração do Pastor universal. Às vésperas do dia do Bom Pastor, nossa ação de graças a Deus pela sua providência generosa, que nos oferece para o tempo certo a pessoa certa.
  (Dom Alberto Taveira Corrêa - Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará)