SOBRE O HÁBITO RELIGIOSO

O HÁBITO RELIGIOSO

Introdução:
Presente na grande tradição da Igreja, o hábito, bem como outros sinais que evocam o mistério da vida consagrada, tem encontrado nos últimos tempos, resistências e objeções quanto a sua atualidade. Há uma certa mentalidade laicizante e secularizante, que ataca, por vezes diretamente, o traje religioso, confrontando assim com a rica disciplina do Magistério, que nunca retirou o uso do hábito.

O hábito religioso, não só é o melhor símbolo externo que atesta o vínculo da profissão religiosa de um membro, este pertencente a vida e a santidade da Eklesia , como também indica testemunho de via evangélica, e ainda denota a característica própria de um Instituto ou Carisma.

Trajes eclesiásticos
O traje eclesiástico é o gênero que engloba as espécies traje clerical e hábito religioso. Entende-se por hábito religioso a veste apropriada prescrita pelas constituições de cada Instituto. Já o traje clerical é utilizado pelos clérigos seculares, a saber a batina preta e o clergyman.
Ao contrário do que muitos pensam, o Vaticano II não aboliu o hábito dos religiosos: “O hábito religioso, sinal de consagração, seja simples e modesto, pobre e ao mesmo tempo decente (...) O Código de Direito Canônico também dirá claramente a obrigação do uso do traje clerical e do hábito religioso:

Cân. 284 – Os clérigos usem o hábito eclesiástico conveniente, de acordo com as normas dadas pela Conferência dos Bispos e com os legítimos costumes locais.

Cân. 669 - § 1. Os religiosos usem o hábito do Instituto confeccionado de acordo com o direito próprio, como sinal de consagração e testemunho de pobreza.
§ 2. Os religiosos clérigos de Instituto que não tem hábito próprio usem a veste clerical de acordo com o cân. 284.

Motivos para o uso do traje
• A obediência à lei canônica: a obediência a suprema autoridade da Igreja já é uma forte razão para o uso da veste eclesiástica e religiosa
• O traje eclesiástico, sinal de consagração: há um motivo de caráter psicológico e antropológico, na direção do reconhecimento de uma nítida distinção entre o sagrado e o secular. A aparência da veste consagrada torna visível a presença de Deus, por meio dos com-sagrados, em meio ao “século”;
• Sinal de pobreza e humildade: “A veste eclesiástica adquire significado parecido ao dos uniformes escolares. É símbolo de humildade também na medida em que todos os membros de um Instituto determinado vestem o mesmo hábito: evidencia-se o espírito de corpo, a unidade interior que é refletida no exterior, a identificação visível dos religiosos daquela obra, a renúncia a si próprio em prol do Instituto ao qual se vincula pelos votos professados...” ;
• A sacralização visível do mundo e a Nova Evangelização: O sinal d traje religioso mostra a presença da Igreja, maneira eficaz e visível de evangelizar, de apontar para o mistério; para Deus. “...é um testemunho silencioso, mas eloqüente; é um sinal que o mundo secularizado necessita encontrar em seu caminho” [33]
Não obstante a abertura aos novos métodos e expressões de apostolado, adequados às novas circunstâncias, a Igreja nunca desprezou seus elementos tradicionais – como o hábito – pelo contrário, reintera sua força evangelizadora e catequética, fruto de demoradas reflexões de Papas e Santos. O servo de Deus João Paulo II disse a um grupo de religiosas: “A vós e aos sacerdotes, diocesanos e religiosos, eu digo: alegrai-vos de ser testemunhas de Cristo no mundo moderno. Não duvideis em fazer-vos reconhecíveis e identificáveis na rua, como homens e mulheres que consagraram sua vida a Deus. (...) As pessoa tem necessidade de sinais e de convites que levem a Deus nesta moderna cidade secular, na qual restaram poucos sinais que nos lembram do Senhor. Não colaboreis com este excluir a Deus dos caminhos do mundo, adotando modas seculares de vestir ou de vos comportar!” [34]

Alegações contrárias à disciplina do traje eclesiástico
Dentre as objeções que fazem a respeito do uso do traje eclesiástico, há quem sustente ser antiquado, ou ainda algo que afasta o povo; argumentam ainda que o Concílio Vaticano II ou que a CNBB dispensaram seu uso, até porque, advertem, as vestes tirariam a igualdade que há entre os sacerdotes e religiosos e os demais fiéis.
Sabemos que as vestes sempre estiveram resguardadas na disciplina eclesiástica e na grande tradição do Magistério. Pelas alegações feitas, em contrapartida, percebemos que pensamentos de fundo marxista ou progressista apelam para a rejeição do que é tradicional, ou simplesmente de tudo insinue a distinção entre as vocações especificamente sacerdotais e religiosas, e a vocação de todo o povo de Deus.
Tais equívocos desconhecem a força da linguagem simbólica e suas implicações diretas na psicologia e antropologia religiosas. Com efeito, Tanto os textos conciliares como os posteriores documentos e discursos da Santa Sé, como já aludimos, mantém a lei, como também postergam a obrigatoriedade do uso dos trajes eclesiásticos. Isso porque as vestes na verdade não separam ou afastam, como se constata na experiência pastoral, mas aproximam os fiéis, e ainda vocações, além do que constituem sempre sinal, presença irrenunciável do sagrado, de Deus no meio de Seu povo.
É verdade que o hábito não faz o monge, mais as vestes, longe de soar legalismo ou farisaísmo, são expressão e reflexo do interior. O padre não é padre por usar traje clerical, entretanto usa traje clerical porque é padre. O religioso não é religioso por usar hábito, todavia usa hábito porque é religioso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Se você já é um vocacionado salvista, religioso, seminarista, ou simplesmente está discernindo a vocação, deixe sua contribuição, suas dúvidas e comentários.