O Silêncio Dialogal

“Foi maltratado, mas livremente humilhou-se e não abriu a boca, como cordeiro conduzido ao matadouro; como ovelha que permanece muda na presença dos tosquiadores ele não abriu a boca.” (Is 53,7).
Este texto Sagrado, pela “exegese cristã[1]”, é atribuído a Cristo, ou seja, o Ungido que governaria devolvendo a Paz aos Hebreus e Reedificaria a Cidade de Jerusalém, e que, para nós cristãos, é Jesus nosso Salvador. Mas a nossa reflexão vai centrar-se nestas palavras que certamente resumem o modo pelo qual Nosso Senhor fez a vontade de Deus, isto é, o Silêncio.
Neste texto Sagrado destacamos algumas palavras chaves, que no desenrolar de nossa reflexão, ampliaremos a compreensão do Mistério em nossa vida. Depois relacionaremos com a tradição monástica e desembocaremos nas palavras de nosso Pai-fundador Pe. Gilberto, sjs a cerca da importância do silêncio como este mergulhar na vida de Deus.
Como notamos no texto sagrado estas palavras: “livremente humilhou-se”, “não abriu a boca”, “como ovelha...muda”, “não abriu a boca”, referem-se a Jesus, que mergulhado na Vontade de Deus, não discutia, a não ser quando interpelado por Pôncio Pìlatos quando praticamente propôs soltá-Lo e assim desviá-Lo da Vontade Salvífica. Mas nos coloquemos no lugar de Jesus, vejamos esta cena. Ele diante de Pilatos. Jesus havia acabado de sair de uma profunda agonia em meio à oração e silêncio. Após este momento, permanece em oração, mas silenciosa. Mas por que o silêncio? Qual o propósito ou importância dele para Jesus cultivá-lo?
As respostas a estas questões estão na reflexão e amadurecimento que a Sua  resposta (de Jesus) precisava passar. Jesus não só teria que dar um sim ao Projeto de Salvação do Pai. Esta resposta deveria vir carregada de toda uma internalização da mesma Vontade, teria que sair de Si firmemente decidida. E para tanto, o “silêncio de diálogo” é indispensável.
O silêncio como diálogo, é aquele que leva o homem naturalmente a mergulhar em si e confrontar-se com suas verdadeiras disposições, verdadeiros desejos, sejam eles bons ou não, no caso de Jesus, no entanto, Ele deparou-se com a Sua Vontade mais íntima, a que é a própria do Pai.
Não poderia ser diferente, uma vez sendo Ele mesmo Deus, apesar disso, como homem que também o é, não hesitou em expressar no horto: “Abbá (Pai)! Tudo é possível para Ti: afasta de mim este cálice;...” (Mc 14,36) e impulsionado pela Verdade mais íntima, fortaleceu-se dizendo: “porém, não o que eu quero, mas o que tu queres” (Mc 14,36). Isto porque, o que na verdade Ele quer, é o que o Pai quer! Notamos neste exemplo, como o silêncio é importante para o conhecimento da missão e o amadurecimento da resposta à mesma, pois na verdade como nos ensina a tradição Monástica hesicasta (experiência monástica russa):
A solidão de um eremita chama e facilita a vinda do Espírito Santo. “Na descida do Espírito”, dirá Serafim de Sarov, “convém estar à escuta – absolutamente silencioso. Também pela leitura que se torna supérflua uma vez que o espírito se apoderou do homem, a oração, à sua vinda, não tem mais necessidade de palavras.”
Teria ele chegado ao estágio descrito por Isaac, o Sírio, em que o silêncio do impassível é oração”?[2]

Esta espiritualidade hesicasta coloca o silêncio como encontro, oração, impassividade, este último porque ao ter sua alma toda mergulhada em Deus pelo silêncio, percebe-se confiante e abandonado à vontade de Deus, isto porque seu silêncio é de constante escuta.
Como você sabe somos carismáticos, e nosso carisma é o “Louvor de Deus”, mas para respondermos à esta graça com solidez, precisamos do silêncio como este diálogo preparatório, de uma resposta livre que Louve a Deus na nossa própria vida, que é ao mesmo tempo expressão de Louvor. Pois é só no silêncio, ao exemplo de Jesus na Cruz, que poderemos fazer como Ele, dar o mais Perfeito Louvor ao Pai com sua vida: a obediência, que culminará na atração de todos à Verdade que é Deus.
Nosso Pai fundador, deixou-nos também uma bela explicação deste silêncio, de solidão acompanhada como resposta de Louvor ao Pai:
...deve cultivar-se o silêncio; acima de tudo, como prática sempre útil nas movimentações de um lugar para o outro. Isto é sadio, e ajuda na recomposição do pensamento, no descanso, no recolhimento para a oração e no estar com Deus, sem cessar.[3]

Percebemos acima que o silêncio, ou solidão acompanhada, é esta internalização do diálogo com Deus, para que depois seja expressa efusivamente por um Louvor perfeito, que poderá ser tanto a Louvação (expressão verbal da afetividade por Deus) quanto a obediência, isto é, a vivencia da caridade como expressão de Louvor de Deus. Agora lançamos o desafio a você de mergulhar neste mês no silêncio de diálogo com Deus.



[1] Exegese Cristã – interpretação histórico-crítico das Sagradas Escrituras nas perspectivas cristã.
[2] Serafim de SAROV. Instruções Espirituais Diálogos com Motovilov. p. 35.
[3] Pe. Gilberto Maria DEFINA,sjs. CONSTITUIÇÕES, REGRAS DE VIDA, ORDENAÇÕES DE ESTUDOS. P. 246.

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